Uma abordagem completa
1. Anatomia da Coluna Vertebral e do Disco Intervertebral
A coluna vertebral é composta por 33 vértebras, separadas por discos intervertebrais (exceto entre as vértebras sacrais e coccígeas, que são fundidas). Cada disco intervertebral possui três partes principais:
- Núcleo pulposo: centro gelatinoso e hidratado que atua como um amortecedor.
- Ânulo fibroso: estrutura externa composta por camadas concêntricas de colágeno, que mantém o núcleo no lugar.
- Placas cartilaginosas: situadas nas extremidades superior e inferior, ligam o disco ao corpo vertebral.
Os discos permitem mobilidade e absorvem choques entre as vértebras, mas estão sujeitos a degeneração e lesões com o tempo.

2. O Que é Hérnia de Disco?
A hérnia de disco ocorre quando há ruptura parcial ou total do ânulo fibroso, permitindo o extravasamento do núcleo pulposo. Esse material pode comprimir estruturas nervosas, como raízes nervosas espinhais ou a própria medula espinhal.

Classificações
- Protusão discal: abaulamento do disco sem rompimento total do ânulo.
- Extrusão discal: o núcleo atravessa o ânulo, mas ainda está conectado ao disco.
- Sequestro discal: fragmento do núcleo se solta e migra para o canal vertebral.
3. Etiologia e Fatores de Risco
As causas mais comuns de hérnia de disco incluem:
- Degeneração discal (envelhecimento natural)
- Traumas ou microtraumas repetitivos
- Posturas inadequadas
- Sedentarismo
- Excesso de peso
- Fatores genéticos
- Atividades físicas intensas com má execução
4. Sinais e Sintomas
Os sintomas variam conforme a localização da hérnia e o grau de compressão neural:
- Cervical: dor no pescoço irradiando para ombro e braço, parestesias, fraqueza muscular.
- Torácica (mais rara): dor torácica, sintomas neurológicos em tronco.
- Lombar: dor lombar irradiada para membros inferiores (ciática), formigamento, fraqueza, alteração de reflexos.
Em casos graves, pode ocorrer síndrome da cauda equina, com incontinência urinária/fecal e anestesia em “sela”.
5. Diagnóstico
Avaliação Clínica
- História clínica detalhada (localização da dor, irradiação, fatores agravantes)
- Exame físico e neurológico: teste de Lasègue, reflexos tendinosos, força muscular e sensibilidade.
Exames de Imagem
- Ressonância magnética (RM): padrão-ouro para diagnóstico
- Tomografia Computadorizada (TC): útil em casos de contraindicação à RM.
- Radiografia: mostra alinhamento e sinais de degeneração óssea, mas não visualiza o disco diretamente.
6. Tratamento
6.1 Conservador (primeira linha – 85-90% dos casos)
- Repouso relativo (não absoluto)
- Fisioterapia: analgesia, alongamento, fortalecimento muscular, reeducação postural.
- Terapias manuais (como osteopatia e quiropraxia), com indicação criteriosa.
- Medicamentos: analgésicos, anti-inflamatórios, relaxantes musculares, corticoides.
- Bloqueios anestésicos (em casos específicos)
6.2 Cirúrgico
Indicado quando:
- Sintomas persistem após 6-8 semanas de tratamento conservador.
- Déficits neurológicos progressivos.
- Síndrome da cauda equina.
Técnicas:
- Microdiscectomia
- Discectomia percutânea
- Artroplastia (prótese de disco)
- Artrodese (fusão vertebral)
7. Prognóstico e Prevenção
A maioria dos pacientes melhora com tratamento conservador. A reincidência pode ocorrer, especialmente se os fatores de risco não forem corrigidos.
Medidas preventivas:
- Exercício físico regular (foco no core)
- Correção postural
- Ergonomia no ambiente de trabalho
- Manutenção do peso corporal adequado
8. Atualidades e Pesquisas
- Medicina regenerativa: uso de células-tronco e terapia com PRP (plasma rico em plaquetas) para regeneração discal.
- Terapia biológica com colagenases: em estudo para reabsorção do material herniado.
- Técnicas minimamente invasivas: menor tempo de recuperação e menos risco cirúrgico.
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